No dia 31 de agosto de 1948, foi realizado em São Paulo/SP o 1º Congresso Brasileiro de Unificação Espírita.
1º Congresso Brasileiro de Unificação Espírita
Jorge Rizzini
Promovido pela União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, então sob a presidência de Edgard Armond, o 1º Congresso Brasileiro de Unificação Espírita realizou-se na capital paulista de 31 de outubro a 5 de novembro de 1948, ou seja, um ano e quatro meses após a fundação da USE porque continuava caótica a situação do movimento espírita no país, apesar da presença da Liga Espírita do Brasil e da Federação Espírita Brasileira – e, particularmente, no Estado de São Paulo, não obstante a ação unificadora da própria promotora do congresso... Havia divergências quanto aos conceitos doutrinários e grande era a mixórdia na prática mediúnica em centros espíritas com o nome de santos, anjos e arcanjos. E havia, ainda, instituições com dupla face – nos dias pares, espíritas, e nos dias impares, umbandistas. No Rio de Janeiro funcionava a União Espiritista de Umbanda e no Rio Grande do Sul a Federação Espírita de Umbanda... Um caos.
Por uma questão de fidalguia a USE ofereceu a direção do congresso à Federação Espírita Brasileira, que recusou, alegando que “não é chegada, para nós, a hora desse grande empreendimento” (...)“porque o julgamos, para nós, inoportuno”, etc. A recusa da FEB, por incrível que pareça, levou o confrade Caetano Mero, presidente da União Federativa Paulista, a desvincular “sua” instituição da USE. Herculano Pires fez parte da comissão conciliatória organizada pela USE. Eis os principais tópicos de sua entrevista (hoje histórica e rara) publicada na coluna Seara Espírita, do extinto Jornal de Notícias, edição de 30 de junho de 1948:
“Durante cerca de três horas ali estivemos, e tenho a declarar, de minha parte, que não ouvi uma única razão capaz de justificar o afastamento da União. Classifico simplesmente de lamentável o gesto desagregador daquela entidade. Aliás, tive ocasião de declará-lo ao Sr. Caetano Mero, ao mesmo tempo que expressava a minha esperança de ver a velha União – que apesar dos anos ainda não tomou juízo – a voltar para o bom caminho. O mais forte argumento de que se serve o Sr. Mero é o de que a USE pretende sobrepor-se à Federação Espírita Brasileira. Não sei por que estranhas artes de raciocínio consegue o Sr. Mero chegar à conclusão de que o organismo estadual, nascido de um congresso a que ele mesmo assistiu e do qual a União participou como organizadora, poderia ter a intenção de desalojar a FEB da sua posição natural, firmada através de anos de trabalho, e decorrente de um imperativo histórico e geográfico. A FEB, como a mais velha entidade espírita do país, situada na Capital Federal, dispõe de tudo quanto falta à USE, para centralizar o movimento espírita nacional. Infelizmente, porém, a Federação parece não ter ainda se apercebido desse fato. E a sua ex-aliada, que acaba de voltar ao seio da ‘entidade-máter’, parece haver regressado tão cheia de amor, que não pode tolerar a existência, em São Paulo, de um organismo como a USE destinada – não a chefiar, a liderar, a mandar, ou coisa semelhante – mas a coordenar, numa base de colaboração fraterna, que é o de que precisamos, o movimento espírita estadual.”
E mais acrescentou Herculano Pires, agora com o bom-humor aliado ao bom-senso:
“Alega o incrível comunicado da União que um dos ‘motivos robustos’ do afastamento é a realização do próximo congresso centro-sulino. Muito ao contrário de robusto, acho anêmico esse motivozinho de comadre. Então por que a USE, em combinação com várias Federações estaduais, resolve promover um conclave com o qual não concorda a FEB, já o seu filho pródigo, a União Federativa, precisa se desligar do movimento unificador? Aliás, se o pensamento do Sr. Mero é o de que os espíritas devem estar jungidos a uma entidade que faz e desfaz, soberana e única, dentro do país, poderemos dizer que isso não passa de um ‘mero’ equívoco. Dentro do espiritismo só se pode pensar em organismos de colaboração, como a USE, com inteiro respeito pela autonomia de todas as entidades menores. Fora disso, haverá sempre ‘espertismo’, nunca espiritismo”.
Publicado no portal
http://www.herculanopires.org.br/apostolo-abertura/302-unificacaoespirita.