quinta-feira, 22 de julho de 2010

Desapego aos bens materiais

Elias Barbosa*

O ideal seria transcrever toda a mensagem de Jean-Baptiste Lacordaire (1802-1861), padre dominicano, escritor francês e autor de vários livros, um deles, a Vida de S. Domingos, brilhante orador sacro, transmitida em Constantina, 1863, item 15, “Desprendimento dos bens terrenos”, mas, devido à sua extensão, vamos citar, do Cap. XVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, partes da referida página mediúnica, a seguir:

“Esbanjar a fortuna não é desapego aos bens terrenos, mas negligência e indiferença; o homem, depositário desses bens, não tem mais o direito de os dilapidar ou de os confiscar em seu proveito; a prodigalidade não é generosidade, mas, frequentemente, uma forma de egoísmo; aquele que atira ouro a mancheias para satisfazer uma fantasia não daria uma moeda para prestar serviço. O desapego aos bens terrestres consiste em apreciar a fortuna pelo seu justo valor, em saber servir-se dela para os outros e não só para si, a não sacrificar por ela os interesses da vida futura, a perdê-la sem murmurar se apraz a Deus vo-la retirar. Se, por reveses imprevistos, vos tornardes um outro Job, dizei como ele: ‘Senhor, vós ma havíeis dado, vós ma haveis tirado; que seja feita a vossa vontade.’ Eis o verdadeiro desapego. Sede submissos primeiro; tende fé naquele que vos tendo dado e tirado, pode vos restituir; resisti com coragem ao abatimento, ao desespero que paralisam a vossa força; não olvideis jamais, quando Deus vos atingir, que ao lado da maior prova, coloca ele sempre uma consolação. Mas pensai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos que os da Terra e esse pensamento vos ajudará a vos desapegar destes últimos. O pouco valor que se atribui a uma coisa faz com que menos sensível seja a sua perda. O homem que se apega aos bens da Terra é como a criança que não vê senão o momento presente; aquele que a eles não se prende é como o adulto que vê as coisas mais importantes, porque compreende estas palavras proféticas do Salvador: ‘Meu reino não é deste mundo.’”

(...) “Deus dá [a fortuna] a quem lhe parece bom para geri-la em proveito de todos; o rico tem, pois, uma missão, missão que pode tornar bela e proveitosa para ele; rejeitar a fortuna quando Deus vo-la dá é renunciar ao benefício do bem que se pode fazer em administrando-a com sabedoria. (...) Aquele a quem chegue o que se chama no mundo uma boa fortuna, diga a si mesmo: Meu Deus, vós me enviastes um novo encargo, dai-me a força de cumpri-lo segundo a vossa santa vontade.”

(*) Clínico geral e psiquiatra - eliasbarbosa34@gmail.com

Artigo publicado no site Jornal da Manhã Online, em 27/06/10.

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